terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Proust Report - pp. 49-50 [ou eu também já bebi muito chá e nunca se me deu disto]

"E de súbito a lembrança apareceu-me. Aquele gosto era o do pedaço de madalena que nos domingos de manhã em Combray (pois nos domingos eu não saía antes da hora da missa) minha tia Leónia me oferecia, depois de o ter mergulhado no seu chá da Índia ou de tília, quando ia cumprimentá-la no seu quarto. O simples facto de ver a madalena não me havia evocado coisa alguma antes de que a provasse; talvez porque, como depois tinha visto muitas, sem as comer, nas confeiteiras, a sua imagem deixara aqueles dias de Combray para se ligar a outros mais recentes; talvez porque, daquelas lembranças abandonadas por tanto tempo fora da memória, nada sobrevivia, tudo se desagregara; as formas - e também a daquela conchinha de pastelaria, tão generosamente sensual sob a sua plissagem severa e devota -, se haviam anulado ou então, adormecidas, tenham perdido a força de expansão que lhes permitiria alcançarem a consciência. Mas quando mais nada subsistisse de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas - sozinhos, mais frágeis porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis -, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação.
E mal reconheci o gosto do pedaço de madalena molhado em chá que a minha tia me dava (embora ainda não soubesse, e tivesse de deixar para muito mais tarde tal averiguação, por que motivo aquela lembrança me tornava tão feliz), eis que a velha casa cinzenta, de fachada para a rua, onde estava o meu quarto, veio aplicar-se, como um cenário de teatro, ao pequeno pavilhão que dava para o jardim e que fora construído para os meus pais aos fundos da mesma (esse truncado trecho da casa que era só o que eu recordava até então); e, com a casa, a cidade toda, desde a manhã até à noite, por qualquer tempo, a praça para onde me mandavam antes do almoço, as ruas por onde eu passava e as estradas que seguíamos quando fazia bom tempo. E, como nesse divertimento japonês de mergulhar a bacia de porcelana cheia de água pedacinhos de papel, até então indistintos e que, depois de molhados, se estiram, se delineiam, se enchem de cores, se diferenciam, tornam-se flores, casas, personagens, consistentes e reconhecíveis, assim agora todas as flores do nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e os nenúfares do Vivonne, e a boa gente da aldeia e suas pequenas moradias e a igreja e toda a Combray e seus arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins, da minha chávena de chá."
- Em Busca do Tempo Perdido I, No Caminho de Swann
Marcel Proust

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Priberam = melhor amigo de um mero artífice que almeja a conclusão de trabalhos com palavras bonitas.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Proust Report - p.48

Umas sete páginas a descrever aquele momento de intermitência entre a vigília e o sono, logo de início. Quem se queixa das 10 páginas queirosianas de descrição do sofá verde devia meter os olhos nisto. 

Esta é a minha expressão facial e interior no resto da leitura:


Às vezes é esta:

Mas normalmente é assim:


Estamos bem.

Título de filme de meia-noite que nem os sinónimos do Word ou Priberam conseguem resolver

«Desesperadamente à procura de um sinónimo para "abordagem"»
É a minha vida, senhores.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

E é claro que Diana Catarina tinha de o perder

Lembram-se disto? Pois... paz à sua alma.
Vou lembrar para sempre a sua eficiência alemã e a maravilhosa peça de engenharia contra intempéries que era.

domingo, 12 de janeiro de 2014

2014

Dois mil e catorze.
Este foi o primeiro ano que pedi os 12 desejos à meia-noite da viragem de ano. É o ano dos 22 (tenho seis meses para aprender a coreografia) e já vi as previsões da Maria Helena para este ano e são bastante auspiciosas (esteanoép'raloucura)
É também o ano em que vou ler Proust. Sim. Vou estar o ano todo Em Busca do Tempo Perdido. 
E o ano de sistemas gravitacionais coloridos. 
E de uma odisseia com o Joyce.
E de piadas infinitas. 

Este ano ano vai ser dedicado àquilo que o Priberam apelida de "calhamaços". Doze mais concretamente; um por mês. O challenge já está lançado no Goodreads, e é provável que eu leia outras coisas que não estão n'A LISTA DOS DOZE, como estou agora a ler o Primo Levi, mas esse não contam, é só mesmo para manter a sanidade, tsá?

A LISTA:
1), 2), 3), 4), 5), 6) e 7) - os sete volumes do Em Busca do Tempo Perdido
8) Gravity's Rainbow, Thomas Pynchon
9) A Piada Infinita, David Foster Wallace
10) As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta
11) Ulysses, James Joyce
12) ... vamos manter este slot em aberto - estou tentada a meter aqui a biografia do Mao e é capaz de não dar bom resultado.

Janeiro vai já quase a meio, e eu ainda não comecei, mas! afinal os volumes do Proust nem são assim tão volumosos. Portanto, so far so good, certo?

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

2013 Revisited

Taxa de sucesso de 100% 80% - resoluções para lá de espectaculares espectacularmente cumpridas. A saber:

1) Jogging - confere; tive de correr imenso para ir apanhar o metro e o barco ao longo dos últimos 12 meses, portanto check.
2) Licença para conduzir - de facto tenho a licença. Código passado, só falta a condução. Deus me salve e guarde. E a vós, também;
3) Teatro - check; é para continuar.
4) Autoras femininas: errr... já disse que gosto muito da Agustina?! 
5) Emprego Freelancer- confere! ligações um pouco duvidosas, muito honesto
6) Mestrado - check check check 
7) Escrever mais - ora, aqui é que a taxa de sucesso desce repentinamente. Mas! haja esperança para este ano, sim? Bare with me

"Tudo tem solução, menos a morte" é a frase de 2013.
2014 é o ano dos 22. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

"Destilar é belo. Primeiro, porque é uma tarefa lenta, filosófica e silenciosa que nos ocupa mas nos deixa tempo livre para pensarmos noutras coisas, um pouco como o andar de bicicleta. Depois, porque comporta uma metamorfose: de líquido a vapor (invisível) e deste novamente a líquido; mas neste duplo caminho, para cima e para baixo, atinge-se a pureza, condição ambígua e fascinante que parte da Química e chega mais longe. E, finalmente, quando nos preparamos para destilar, adquirimos a consciência de repetir um rito consagrado há séculos, quase um ato religioso, em que de uma matéria imperfeita se obtém a essência, «usía», o espírito e, em primeiro lugar, o álcool que refresca os ânimos e aquece o coração"
- O Sistema Periódico, Primo Levi

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

À senhora que me ultrapassou na curva com pior visibilidade de sempre, pisando o risco contínuo, e que por pouco não me destruiu a dianteira da viatura

Uma buzinadela é pouco; merecia que a fizesse comer o asfalto à chapada.
Eu sei que a morte do Eusébio foi uma grande consternação, mas não é preciso embarcar numa viagem suicida para se juntar a ele. Um dia mais tarde, todos lá chegamos, não é preciso adiantar trabalho. E já agora, agradecia que me não me levasse consigo, tenho imensos trabalhos para entregar antes do fim do semestre.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Feliz Ano (e cabelo) Novo(s)!

Antes de mais:
OLÁ 2014

Pronto.
Falhei miseravelmente a minha resolução de escrever mais, eu sei. De certeza que já andavam a pensar que eu tinha ficado numa valeta, lá na terra de nenhures onde fui fazer o exame de código; ou que chumbei ao exame e perdi todo o sentido da vida. Mas não se apoquentem: eu passei.

O que também passou, mas pelo meu cabelo, foi uma tesoura. Chop Chop. Nunca me tinha acontecido o é-só-as-pontinhas-mas-vai-de-cortar-como-se-não-houvesse-amanhã; as cabeleireiras fazem o orçamento consoante os centímetros capilares desalojados? Estava à espera de começar o ano com uma farta cabeleira, mas aprumada e sem pontas espigadas, mas o universo não deixou. Tudo bem. 2014 vai ser bom na mesma.