segunda-feira, 8 de outubro de 2012


"Ao pé da forca, os SS olham com indiferença para nós que desfilamos: a sua obra está cumprida, e bem cumprida. Os russos podem chegar; agora, já não há homens fortes entre nós, o último pende por cima das nossas cabeças, e , para os outros, poucas forças foram suficientes. Os russos podem chegar: apenas nos encontrarão a nós, os vergados, os apagados, dignos da morte inerme que nos espera.
Destruir o homem é difícil, quase tanto quanto criá-lo; não foi fácil, não foi rápido, mas os Alemães conseguiram-no. Desfilamos dóceis, debaixo dos seus olhares: da nossa parte nada mais têm a recear: nem actos de revolta, nem palavras de desafio, nem sequer um olhar de condenação.
Alberto e eu regressámos à barraca, e não fomos capazes de olhar um para o outro. Aquela homem devia ser duro, devia ser feito de outro metal que não o nosso, se esta condição, que nos quebrou, não o conseguiu vergar.
Pois, nós também estamos quebrados, vencidos: mesmo tendo sabido adaptar-nos, mesmo tendo aprendido finalmente a arranjar a nossa comida e a aguentar a fadiga e o frio, mesmo tendo perspectivas de regressar a casa.
Levantámos a menaschka em cima da cama, fixemos a distribuição, satisfizemos a raiva diária da fome, e agora a vergonha oprime-nos."
- Se Isto é um Homem, Primo Levi

Sem comentários:

Enviar um comentário