domingo, 7 de outubro de 2012

À senhora do café do terminal do cais

No cais há um café mesmo no terminal de que eu gosto muito e vou quando posso, onde é o café é bom e a sessenta cêntimos, não me fazendo tremer de nostalgia pelo tempo em que ainda era a uma moeda de cinquenta. A senhora é simpática e dá os bons dias.
No outro dia, tocava a "Everybody Hurts" dos R.E.M. na rádio, uma das músicas preferidas do filho. Descobri então que ele tinha morrido e agora era ela quem a ouvia como se ouvisse a vida e voz do seu rapaz ainda. 
As pessoas escondem uma vida atrás das rugas e palavras simpáticas. Deve ser a única forma de a ultrapassar. Aquela pessoa tinha experienciado a dor pela qual nunca nenhum pai pensa ou quer passar, completamente anti-natura na sua essência, uma dor absurda, reflexo talvez de uma casualidade do universo, aleatório. Há que não desistir, diz ela. A voz do Stipe também o afirma através das ondas radiofónicas que naquela manhã me contaram a história daquela mulher. Não desistir, mesmo com toda a absurdidade da vida e do universo alheio a qualquer ordem e pelo meio dessa mesma desordem, encontrar um sentido para tudo isto. 
Porque tem de existir algum. Talvez o sentido seja essa busca incessante de respostas; talvez esteja na maternidade ou paternidade; talvez esteja na esperança de mudar o mundo para melhor e contribuir na ânsia de paz mundial. Talvez, um qualquer, mas um sentido algures. Um sentido único ou diferente, mas muito pessoal, para cada um de nós algures nos escritos das estrelas ou nas nossas veias. Não consigo conceber a nossa existência de outra forma.

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