segunda-feira, 5 de março de 2012

Esta noite sonhei com a minha avó e ela ainda estava viva. Debilitada, é certo, mas viva. Acho que ainda não resolvi bem a partida dela cá dentro, ainda não a chorei se calhar porque estou ainda um pouco em negação mesmo dez meses depois. Às vezes ainda penso que vou para a terra e ela vai abrir-me a porta; chego, mas ela não está lá. É um silêncio vazio impossível de vir a ser preenchido. 
Só chorei na igreja quando ouvi também o nome do meu avô; um golpe duro, um murro no estômago, acho que assustei o meu primo. Foi a primeira e última vez. Tive medo por quem ficou. Ainda tenho. 
Lembro-me da última vez que a vi, lembro-mo das palavras que me disse numa réstia de lucidez e ainda sinto o toque dela na minha cara. Os dedos longos da mão iguais aos meus. Sinto-os, tão vivos, tão reais. O nó na garganta, igualmente.
Às vezes sinto-lhe a falta; da comida, do tom reconciliatório. Gostava que estivesse cá para me ver tirar o curso, casar, ter filhos. Às vezes penso que ainda a vou ver, falar com ela, a minha estrutura e esquema mentais ainda assim estão configurados, mas rápido me lembro que não. Foi o fim. Há sempre um fim, um fim para tudo, um fim para todos. Ninguém escapa. 
Precisava de lançar isto para o universo, não lhe sei bem a utilidade nem o que fazer com isto, mas está dentro de mim há tempo de mais. Não estava à espera de sonhar com ela e o sonho atingiu-me como uma lança, portanto precisava de lançar isto para o universo. Que o universo faça disto o que entender.
Sonhei que eu própria tinha um tumor, mas no cérebro, e fui morrer ao areal da praia.
Acordei e vi o sol por entre a abertura dos estores. A realidade assentou.
A morte é uma puta.

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