quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Amo-te muito, meu amor, e tanto 
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda 
depois de ter-te, meu amor. Não finda 
com o próprio amor o amor do teu encanto. 

Que encanto é o teu? Se continua enquanto 
sofro a traição dos que, viscosos, prendem, 
por uma paz da guerra a que se vendem, 
a pura liberdade do meu canto, 

um cântico da terra e do seu povo, 
nesta invenção da humanidade inteira 
que a cada instante há que inventar de novo, 

tão quase é coisa ou sucessão que passa... 
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira, 
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça. 

- Jorge de Sena, in “Poesia, Vol. I” 

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