quarta-feira, 9 de março de 2011

A ociosidade é tramada

Eu tenho um problema, aliás tenho vários, mas este é especialmente preocupante e uma pesada cruz que eu carrego há já uns 13 anos: a ociosidade. 
Eu, confesso, sou preguiçosa. Ou nem é bem preguiça, mas um dom para a inactividade que se prolonga até ao último momento possível. Isto é particularmente perigoso quando há trabalhos a fazer e textos para ler e cenas a estudar. Tenho conseguido aguentar este difícil equilíbrio entre o não fazer nada durante grande parte do ano lectivo e o andar em papos de aranha nos últimos dias dos prazos de entrega e vésperas de testes com resultados mais ou menos decentes e satisfatórios. Normalmente envolve noitadas, crises existenciais, olhos vermelhos de choro, olheiras e uma atitude "que se foda: vai assim e acabou." quando o word ou o power point ou a (raios a partam) impressora não querem cooperar com o meu bom esforço. No fim disto tudo, vem sempre a mesma promessa: para a próxima faço as coisas atempadamente. Até já pensei em enganar-me a mim própria e convencer-me que a data está mais próxima do que realmente está e arranjar a minha vida para que naquela altura o trabalho esteja feito. Não funcionou. O meu cérebro deve ser sobredotado e percebeu logo que estava a ser enganado. 
O pior é quando os trabalhos são de grupo. No secundário, havia um esquema: sendo os grupos feitos pelo professor ou escolhidos por nós, não havia problema: no primeiro caso já sabia que o ritmo de trabalho ia ser o meu, portanto muito lento, ou no segundo, eram sempre as mesmas moças (bons tempos) e já tínhamos um método bem definido e convicções partilhadas de que ainda havia tempo, depois fazemos, e ficava tudo para a última. A coisa funcionava de qualquer das formas. Era bonito, era agradável, tínhamos notas fixes acabamos com médias decentes. Agora não. É diferente. E tem de ser diferente, senão tenho um esgotamento nervoso a cada semestre e isso não seria nada agradável. 
O problema é a estrutura do meu ser permanecer inalterável. Continua a adiar e a deixar tudo para última. 
O meu cérebro já se convenceu de que não há outra maneira; eu só faço trabalhos geniais sobre pressão. Fico à espera da chamada inspiração e é claro, a besta só vem quando a festa acabou e as luzes se apagaram, a más e tardias horas. 
Falta-me o método. Tenho aprendido que é muito importante delinear os objectivos, os tópicos, o como e o porquê. Eles estruturaram uma (saudosa) cadeira inteira à volta disto o semestre passado, e a partir dela descobri que eu não tenho qualquer sentido de método, e não me safava como escritora, assim a tempo inteiro. Acordar e escrever. Almoçar e escrever. Jantar e escrever e depois acordar e fazer tudo de novo. Trabalhar as personagens, esculpir uma história. Leva tempo, emprega paciência. Eu avanço à base do improviso e diálogos que me surgem às 4 da manhã já estando de lençois puxados até cima e num estado intermédio de vegetação. Invento à medida que avanço, não há plano, moldes, nada pré-definido. E é precisa disciplina para escrever. Enfim, já me resignei a uma carreira literária falhada.
A ociosidade é tramada. Ter uma data de textos e nenhuma paciência para os ler também. Demorar umas boas 2 horas e meia para escrever este post e uns valentes 45 minutos para responder a um e-mail, rápido, é coisa que me irrita. Tenho problemas de concentração e um défice de atenção ilimitado. Mas o bom é que no fim acaba sempre tudo (e miseravelmente decente e bem) feito. 
Resulta. É o que vale... 

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