terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Lugar do Morto

Cada vez que entro num carro contemplo sempre a hipótese de ser capaz de nunca chegar viva ao destino. Alias, a hipótese ocorre-me sempre que entro dentro de um qualquer meio de transporte com rodas e até barcos – atravessar o Tejo pode ser o meu fim, tal qual Leonardo DiCaprio no Titanic.



Mas andar pode ser uma experiência tortuosa, especialmente em auto-estradas (enquanto escrevo isto encontro-me exactamente na A23 dentro do meu carrinho cinzento no, surpresa das surpresas, lugar do morto). Odeio auto-estradas. Nunca gostei: Não gosto do barulho do asfalto, odeio a rapidez e abomino aquilo que deveria ser a paisagem. A velocidade de tudo isto atordoa-me, não gosto do movimento acelerado que não deixa aproveitar a viagem, além de que visto a rapidez dos pneus a rolar, uma simples pedra no caminho parece-me ser capaz de levar o carro contra uma parede ou as barreiras de protecção, não sem antes rodopiar idiotamente, fazendo estragos em tudo por onde toca, claro comigo lá dentro. No caso dos comboios é o medo de cair ao Tejo, porque eu não sei se os meus amigos sabem, mas a viagem à beira-rio é, literalmente, à beira-rio, porém na vertente de uma montanha a uma altura considerável. Os carris nem a metro estão da beira do caminho. Uma pessoa parece que anda no ar. Enfim, medos à parte, o quem de seguida me assola é qual música vou eu estar a ouvir no momento do embatimento a 120 à hora. É isso que realmente me preocupa. Se no comboio tenho o mp3, no carro é mais complicado – gosto de fazer uso do rádio. Às tantas é por isso que gosto de ir à frente a controla-lo: posso assim estar mais segura quanto à música que estará a no ar durante o meu infortúnio, dependendo da estação.



Este sentimento recalcado no meu subconsciente vem ao de cima cada vez que entro no carro. Penso sempre que é desta que vou desta para melhor, que me quino aqui, que pereço. E esse momento não chega nunca – nunca me quinei numa viagem de carro (ou em outra qualquer), nunca fui desta para melhor. Acho que no dia em que não pensar nisso, será esse o meu fim, o meu último na Terra.


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P.S.: Não me importava nada de me finar ao som desta música. MGMT. A Kids, por sinal. Como vêem é sempre vantajoso o usurpar do uso e direito ao botão nº 5 da rádio, a Antena3.



A23 [Almada-C. Branco], 11 de Agosto de 2009 10.14 am

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