Sejamos claros: eu não sou maluca. O senhor apanhou-me desprevenida a sair da loja a lamuriar o facto de o raio do colete ainda me ficar largo mesmo sendo o último tamanho. Estava apenas um bocado deprimida e precisava de desabafar com o vento.
O problema é que eu sou expressiva demais a falar e tenho a tendência de mexer as mãos e tenho caras engraçadas. Em suma, penso alto e calculo não ser agradável para os transeuntes verem tal malabarismo de feições e trejeitos, especialmente quando não vêem à minha volta a outra metade do acto conversativo, o receptor da mensagem, que como pode ver, anseio tão profundamente transmitir, visto não conseguir esperar até chegar a casa para o fazer.
Dito isto, eu não sou uma louca qualquer que anda para aí a falar em dialectos estranhos no meio de parques e jardins no centro de Lisboa. Longe disso. Sou apenas uma pobre rapariga, em que calhando não ir ninguém a meu lado, gosta de encetar monólogos a lamentar a sua triste sorte.
De vez e quando também danço, mas ainda bem que o senhor não assistiu à tão grave decadência de tal espectáculo de movimentos (e quase de luz e som). Estejamos gratos.
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