Que a vida passa rápido, todos nós sabemos, por isso não é aconselhável passa-la a ler livros que pouco ou nada têm de interessante.
É o caso de A Vida num Sopro de José Rodrigues dos Santos.
Resolvi dar-lhes uma oportunidade: ao autor, que como me pisca o olho no final de cada Telejornal da RTP, o mínimo que posso fazer para lhe retribuir a gentileza é ler-lhe a obra, e ao livro que andava por aqui num desesperante grito de aflição “Por favor, leiam-me!!!”. E como eu não sou má nem gosto de ver livros em sofrimento, lá comecei a ler a narrativa.
Acabei-a três semanas depois. Fiquei desiludida. Acabei o livro com um gostinho amargo, um sentido de tempo perdido. (E agora porque eu não gostei do livro, já não há piscadelas de olho no final do Telejornal para ninguém. Nunca tinha tido, o José Rodrigues dos Santos como uma pessoa vingativa…). Estava à espera de outra coisa, uma outra forma de pôr as palavras no papel, uma outra forma de informar o leitor dos sentimentos, acontecimentos, pensamentos e acções que se desenvolvem e desenrolam ao longo das 611 páginas de história. Não há espaço para subtilezas: está tudo lá, tudo muito linear, tudo muito dito e descrito – o que em certos casos, não é necessariamente algo de mau, mas neste caso, é.
Não senti a necessidade de ler mais devagar e repetidamente, somente para sentir a paixão e a beleza das palavras; não fiquei fascinada pelo tom e fluir da história. Em vez disso, senti a cada página a rudeza dos lugares-comuns, dos clichés da vida e da História.
A cada virar de página adivinhava-se o que aconteceria a seguir, além de que nem as personagens me geraram simpatia alguma. A premissa é boa: uma casal de namorados do liceu, durante os inícios do Estado Novo, são brutalmente afastados um do outro, primeiramente pela mãe da rapariga e mais tarde pela mão do destino. Luís e Amélia, ele um idealista, ela uma doce rapariga de olhos avelã, vêem-se assim atraiçoados pelas contrariedades da vida. Acabam por se encontrar, anos mais tarde em Penafiel: ela encontra-se casada com um oficial do exército, superior hierárquico de Luís, e ele acaba por ficar noivo, sem saber, da irmã dela. Resta dizer, que ele se apaixona pela rapariga, Joana de seu nome, porque esta tem um semelhante ar de graça da Amélia. Eventualmente, eles acabam por se tornarem amantes, o que causa, futuramente, um assassínio e uma fuga para Espanha, em braços com uma guerra civil. Pelo meio, alguns encontros não muito agradáveis com a realidade política do regime, marcam o carácter e a maneira como Luís nos é apresentado. Aquele idealismo falha em tornar a personagem agradável. Como? Não sei. Sei apenas que ao fim de alguns capítulos, ele começou a irritar-me profundamente. Porquê? Também ainda não consegui perceber. Em teoria, Luís é o tipo de personalidade que me interessa, na prática, após alguns capítulos, o meu desejo era que ele se matasse. O que, só assim por acaso, acaba por acontecer. Se quiserem saber como e porquê, desperdicem também vós algum tempo das vossas vidas para descobrirem, que isto, eu não sou paga pelo Estado para fazer serviço público; nem tão pouco sou uma alma amável e caridosa. (Vá pronto, basta começarem a ler a partir do Xº capitulo da 3ª parte. E depois não digam que não sou amiga…)
Toda esta previsibilidade, a pobre forma como tudo isto nos é dito constituem uma bruta decepção: de todas as tais 611 páginas, somente umas 5 linhas tiveram impacto na leitora que houve em mim. As únicas que deram vontade de reler e reflectir:
“A vida é um sonho, pensou. A morte é o despertar. Passamos um universo inteiro a flutuar no vácuo da não existência; a vida não passa de um fugaz tremeluzir da chama do petromax na vasta noite de eternidade.
A vida é a anomalia, a morte é o regresso ao estado original; a vida é um sopro, a morte é o ar.”
Só coisas esperançosas e alegres, portanto.