terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pensar/Actuar

O que faz uma pessoa aquilo que ela é? O que será que a torna uma lista premente e qualidades e irreversivelmente de defeitos? As suas palavras? O discurso perfeitamente articulado? Os seus pensamentos e ideias? Ou serão as suas acções?

Pensamentos impróprios e obscuros já ocorreram a todos nós. Numa ou outra ocasião, certamente, já nos passou pela cabeça esganar aquela criatura desprezível que nos incomoda todo o santo dia ou levantar imoderadamente a voz aos seres que fazem dos seu objectivo diário atazanarem a vida a quem trabalha. Mas serão esses pensamentos, que em todo o bem não serão necessariamente prudentes de cumprir, que definem a nossa identidade? Direi que não. E direi que não, porque esses mesmos pensamentos fazem parte da condição humana, esse lado mau e tenebroso está incutido no nosso íntimo ser, assim como o está o instinto de sobrevivência com que todos nos somos dotados.

Esse outro lado, o oposto da simpatia e ternura, da afectividade e até, atrevo-me a dizer do bom-senso, esse lado inverso da moeda que a sociedade parece não querer admitir ou reconhecer como existente, está embutido em cada um de nós, vindo desde há muito e não vai, certamente, desaparecer enquanto a Humanidade não se extinguir. Não pretendo aqui dissecar esse assunto ou aprofunda-lo muito mais, até porque esse não é o objectivo destas linhas específicas. O é, contudo, saber o que faz de nós, nós.

Então, o que define alguém se não os seus pensamentos?
Há uma linha divisória, com a qual somos igualmente dotados: um discernimento, uma vontade própria, uma liberdade de escolha. O que realmente nos define é, pois, a escolha de acções.
Os nossos actos, o que fazemos no decorrer das nossas tarefas diárias. É isso que nos define, que nos molda ao olhar do outro.
Se os nossos pensamentos são íntimos e individualizados, os nossos actos são do domínio do mundo inteiro, porque nele marcam uma posição, estabelecendo invariavelmente uma relação de causa e consequência.
Em toda a verdade, apenas a acção pode mudar o mundo, o curso dos acontecimentos. No partir do pensamento para a acção, esse entremeio, o lusco-fusco do entretanto, reside a essência do que realmente somos. Um messias? Um revolucionário? Um agente da paz? Ou um assassino? Um cobarde? Um mentiroso?

A nossa definição reside na linha divisória que separa o pensar do agir; a liberdade de escolha patente em todos nós que nos permite escolher o caminho a seguir e o que fazer. O carácter de alguém é medido, não, pura e simplesmente, pelos nossos pensamentos, mas pelo peso das suas escolhas e actos. O nosso carácter é definido pelas nossas acções.

Laranjeiro, 6 de Agosto de 2009; 6.11am

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