"não desesperes porém porque serei contigo. eu te abençoo debaixo deste sol te ordeno que cresças te multipliques e as galáxias habites sujeitando-as. contempla a natureza que boa ou má para ti foi inventada e vive nela. sê. agora uns seculares instantes vou descansar quase secreto. mas eis que já formigas os homens passam constantemente na rua. já Lisboa se afogou no nevoeiro. se tu ao menos um sorriso visses descansavas. não. nada que não sejam portas e janelas. mudo entardecer. discreto. nas praças autocarros. um banal buzinar como balões a rebentar. que pressa fornicadora em cada movimento. imenso foi o tempo. pelos parques da cidade um vento se desata. roxo seria o céu se acaso fosse visto. porém não é. desiste. antes repara na janela defronte onde há bem pouco ainda aquele feminina fininha figura com um de comoestápassoubemmuitoobrigada sorriso te sorriu. não olhas. aguardas e não chega. teu quarto que teu não é mas da cloaca citadina porque se aluga à hora está pesado de presenças passadas espasmos idos móveis altos despidos cheios de pó. mole é contudo a espera e tu jazes no chão. desejas com todo o corpo o que não sabes ainda. dos automóveis o volume rápido aumenta desde baixo. deves pensar que o amor a amizade mesma se tornou exigente. exige doação. assalta sem que contudo mate. vivifica. por isso te faz livre."
- "I Fragmento", Rumor Branco
Almeida Faria
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