terça-feira, 13 de agosto de 2013

E o tanque.

Não há só o luto pelas pessoas. Há também o dos lugares, dos pedaços de terra em que crescemos e onde brincámos toda a vida. Debaixo das laranjeiras em que ao tentar fazer uma casa com paus e canas, nos apercebemos que nunca poderemos ser engenheiros civis ou arquitecto (arquitectos, talvez porque o desenho estava bem bonito e só um bocadinho ambicioso). Debaixo da laranjeira onde tentei pendurar uma baloiço, mas cenas aerodinâmicas não são comigo e o cordel atado a um pedaço de madeira não fazia mais que ir contra a árvore, o me enegreceu as pernas juvenis; foi aí que descobri que nunca poderia ser engenheira aeroespacial. 
E depois há o tanque. À entrada, mesmo ao lado do portão, estava o tanque da roupa onde eu fingia fabricar tinta - verde - a partir das folhas da laranjeira para vender (nota-se que eu era uma criança um tanto anti-social?). Isto para não falar da mercearia que abri e da peixaria onde as molas eram sardinhas-faz-de-conta. 
Quando o espaço, o nosso espaço, é invadido por retroescavadoras, não é só a terra que antes escavávamos à procura de minhocas que se enche de entulho, é a criança de seis sete oito nove anos que lá passava os Verões que se enterra também.

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