As pessoas estão destinadas a desiludir. Todas elas, nalgum ponto das nossas vidas, numa qualquer situação, seja por palavras, por actos ou simplesmente por dizerem ou fazerem coisa alguma. Tenho vindo a estabelecer esta teoria há já uns tempos. Até agora posso dizer que ainda não houve refutação prática por parte das pessoas, salvo raras (rarissímas) excepções.
As piores desilusões acontecem com as pessoas que nos estão mais próximas. E nem poderia ser de outra forma: são estas que realmente importam e quando caem na asneira de nos (me) desiludir é um problema. O pior é quando são coisas esperadas, antecipadas, mas que por qualquer razão foi melhor passar por cima, não querer criar confusão, ignora-las: "Não, Diana Catarina, estás a ser paranóica, tem um pouco de fé nas pessoas." O problema deste processo mental é que tudo isto acaba por desabar quatro ou cinco vezes com mais intensidade noutro tempo qualquer. E a confusão acaba por ser quatro ou cinco vezes maior e batemos ruidosamente com a porta. Acabou.
Mas de outras vezes, a porta fecha-se sem muito alarido, devagar, com o sopro do vento e das circunstâncias da vida. O Kerouac tem uma citação que eu gosto muito: “What is the feeling when you're driving away from people, and they recede on the plain till you see their specks dispersing? -it's the too huge world vaulting us, and it's good-bye. But we lean forward to the next crazy venture beneath the skies.” Às vezes é isto que acontece. Duas pessoas que um dia foram próximas e partilharam uma amizade que se julgava daquelas do para sempre afastam-se até que a linha do horizonte as faz desaparecer: é o peso do mundo, do quotidiano e do comodismo, porque custa manter uma amizade com alguém, dá trabalho e é preciso paciência. É mais fácil deixar cair do que mante-la no ar. E é a perda que custa mais, não a intempestiva, a do "odeio-te, como me pudeste fazer isto?", é esta, a que lentamente nos rouba quem um dia foi importante. E custa um bocadinho, mas há que perceber que a vida corre e as pessoas não são constantes, mudam e têm atitudes inesperadas (ou talvez nem tanto assim) e que nos deitam abaixo, nunca conhecemos verdadeiramente uma pessoa. Caraças, nem nos conhecemos bem a nós próprios, quanto mais o outro. É a pessoa que fazemos na nossa cabeça que nos desilude, creio. Creio não, sei. É assim mesmo.
Seja de que forma for, perder alguém que outrora já consideramos tão próximo é mau. Seja porque nos desiludiram, porque foram parvos, estúpidos, completamente irracionais, e uma pessoa assim não dá, farta-se, bate a porta e acabou.
Só é pena que acabe que assim.
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