Eu podia escrever muitas palavras sobre toda a experiência que foi participar no Parlamento dos Jovens: podia dizer que foi muito divertido, mesmo com todas as atribulações que o acompanharam, podia dizer que foi extremamente interessante e bastante enriquecedor. Podia até dizer que me deixou pasma com certas coisas... e tudo isto seria verdade.
Um dos maiores problemas que a nossa República enfrenta é, acima de tudo, o desinteresse que as pessoas parecem assumir em relação a qualquer assunto que se relacione com a política, principalmente os jovens. Por isso, a abstenção no nosso país é tão elevada: as pessoas não se interessam e não têm a verdadeira consciência desta acção, ou falta dela; as pessoas não compreendem o verdadeiro impacto que podem ter na política de governação, fala-se sempre mal, mas apresentar alternativas viáveis, não se apresentam. Dá trabalho pensar em como vamos resolver tudo aquilo que está mal. Dá trabalho levantar o rabo do sofá a um domingo para ir votar. Dá trabalho fazer uma escolha consciente e colocar a cruzinha no quadradinho certo. Por isso, é mais fácil não fazer nada; e depois queixam-se.
E este desinteresse é o que está a deixar verdadeiramente a nossa República doente: os problemas judiciais, as crises económicas, o mau funcionamento das urgências e os problemas da educação por mais graves que sejam - que são bastante - não se irão resolver enquanto não se proceder a uma mudança de mentalidade. E essa mudança terá de partir, fundamentalmente, da sociedade civil, da nova geração, da juventude que tomará em mãos o futuro do país: porque aos velhos caquéticos que se sentam na assembleia não lhe interessa mudar - ganham à mesma os seus 3000 euros, estão de futuro garantido quando se reformarem ou quando a legislatura acabar - para eles as coisas funcionam como estão. Caberá pois às novas gerações o papel inovador, da mudança verdadeiramente acreditada; mas o que a realidade demonstra é o seu desinteresse, os jovens não se envolvem, e acima de tudo, não desenvolvem uma consciência cívica (é praticamente preciso implorar para que eles votem na Assembleia de Escola...). E isto sim é um problema crucial, estrutural, que só será resolvido com uma grande força de vontade e visão de futuro: precisamos de parar de pensar apenas nos moldes no curto e médio prazo e planear o que aí vem, a longo prazo. Por isso é absolutamente necessário começar a fomentar e a despertar a consciência cívica de cada um desde cedo. Muito cedo. Não basta incluir no currículo de um aluno do 3º ciclo uma disciplina como Formação Cívica; não basta incluir no plano de estudos do Secundário uma área que estuda a forma como se organiza o poder, ainda que necessária. É preciso começar desde cedo a reestruturar e reformar mentalidades para que no futuro estas crianças se tornem, acima de tudo, cidadãos conscientes. E isto é fundamental; só assim haverá um verdadeiro desenvolvimento. É preciso, então, que se incluam nas actividades da escola primária, espaços de debate, espaço onde os valores democráticos e de cidadania são desenvolvidos; é preciso que se levantem questões que ajudem estas crianças, não só a perceber como funciona uma sociedade democrática, mas uma sociedade onde cada um de nós lhe é útil e necessária.
Nenhum homem é uma ilha; cada um de nós faz parte, quer queria quer não, de um movimento maior, de algo mais que nos ultrapassa, cada um de nós é parte integral de uma sociedade que precisa de nós e da nossa utilidade, para que esta se desenvolva e progrida. E isso passa, impreterivelmente, pelas questões políticas.
Precisamos de cidadãos conscientes: para isso é preciso uma reestruturação de mentalidades. Porque o caminho que agora estamos a percorrer é perigoso. Precisamos de mudar, mas não uma mudança assente apenas no princípio de mudança: uma mudança fundamentada num princípio concreto e pensado a longo prazo, não nos podemos dar ao luxo de inventar à medida que a História passa.
Precisamos de uma sociedade, onde cada um dos seus membros estão conscientes do seu papel e estão dispostos a cumpri-lo. E isso é claramente ponto assente. Precisamos que se interessem, porque é do nosso país que estamos a falar, é do seu presente, é de honrar o seu passado, é de estarmos confiantes no seu futuro; e é, igualmente, o nosso presente e do nosso futuro e as nossas vidas que estamos a debater.
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P.S.: Se leste tudo até ao fim: Bravo!. Eu sei que às vezes consigo ser muito chata quando se fala de política e nestas questões. Mas a preocupação é real...